Revitalização da Cadeira “Portuguesa” nos Anos 90: Um Marco Cultural e Arquitetónico

Os espaços públicos das cidades portuguesas apresentam diversas peculiaridades que os tornam únicos, sendo a cadeira “Portuguesa” uma das mais distintas. Este ícone fortalece a identidade das esplanadas portuguesas, sendo apreciado desde os tempos primordiais por intelectuais, artistas e até mesmo por cidadãos comuns. A crescente procura por turistas destaca as esplanadas, especialmente a do Café Brasileira em Lisboa, que tem alcançado notável sucesso devido a essa referência.

Na viragem dos anos 80, a imagem do país quase foi prejudicada pela disseminação das cadeiras plásticas brancas. No entanto, nos anos 90, durante os preparativos para Lisboa Capital da Cultura Europeia e a construção do Centro Cultural de Belém, a revista italiana de arquitetura e design “Domus” elogiou a cadeira “Portuguesa”. O edifício, projetado por Vittorio Gregotti e Manuel Salgado, contou com a colaboração do Atelier Daciano da Costa para a escolha do mobiliário do CCB (Centro Cultural de Belém), que incluiu a cadeira “Portuguesa”. Daciano da Costa viu nela um design clássico modernista e genuinamente português, perfeito para as esplanadas do CCB.

O Legado da Cadeira “Gonçalo” e as Controvérsias em Torno da sua Origem

Neste mesmo período, a Câmara Municipal de Lisboa estabeleceu uma norma que obrigou os comerciantes, especialmente na Baixa, a adotarem a cadeira “Portuguesa”, chegando a determinar cores específicas para diferentes zonas da cidade. Isso resultou na abolição das cadeiras plásticas brancas, impedindo o declínio e desaparecimento das esplanadas.

Em 1992, nos “Cadernos de Design” do Centro Português de Design, o arquiteto e designer Sena da Silva, então presidente, destacou a cadeira na capa e a batizou como cadeira “Gonçalo”. Esta cadeira foi supostamente criada nos anos 50 por um serralheiro chamado Gonçalo da empresa Arcalo, que se baseou em um modelo anterior, também de sua autoria. No entanto, a autenticidade do modelo tornou-se objeto de disputa devido a modelos semelhantes que surgiram posteriormente.

O arquiteto René Herbst, co-fundador da União de Artistas Modernos e pioneiro do design moderno, criou uma versão estofada da cadeira “Portuguesa” destinada ao uso interior. A história revela que as cadeiras tubulares surgiram em Portugal nos anos 30, presentes em cafés e hospitais, inspiradas na Bauhaus e em modelos de design inovador de Marcel Breuer, Mies van der Rohe e Mart Stam, produzidos pela Thonet.

A cadeira “Portuguesa” tornou-se uma atrativa peça “vintage”, sendo sucessivamente reinterpretada por diversos designers, mantendo-se relevante nos dias de hoje com suas contínuas reedições.